Mãos trabalhadoras

Como são belas

As mãos das trabalhadoras

Fortes, musculosas

Delicadas

Bem cuidadas

Arrumam a roupa

Apertam botões

Mexem na bolsa

Quanto tempo leva

Para as mãos ficarem assim?

Torneadas

Esculpidas

Trabalhadas

Mãos de quem as usa

Para fazer a comida

Para fazer acontecer

O mundo ao nosso redor

Quantas coisas essas mãos fizeram?

Quantos cabelos pentearam?

Quantos panos torceram?

Quantas mandiocas já colheram?

Mãos que acalmam e aconselham

Mãos que seguram firme e não soltam.

Infinitar

Sempre que nos deparamos com uma concha grande, daquelas espiraladas (tão raras hoje em dia), nosso instinto mais primitivo é lavá-la à orelha.

Isso acontece porque as conchas têm a capacidade de criar infinitos…

Seja qual for o lugar ou situação em que a concha é levada à orelha, ela consegue nos levar para o mar, para o imenso e misterioso mar.

A capacidade de infinitar momentos da vida limitada é a magia inexplicável das conchas espiraladas, e o fato delas virem do mar não deve ser mero acaso.

A sensação de infinitação provavelmente vem do fato de todos termos vindo do infinito, e mais precisamente, no planetinha azul, do mar.

As conchas trazem consigo o infinito, porque carregam sua origem para onde quer que sejam levadas.

Elas não nos deixam esquecer nossa infinitude enquanto vida continuada, enquanto areia na praia e gota no oceano, enquanto pó de estrelas no universo que tem lá fora e aqui dentro.

Infinitar: ação que as conchas espiraladas realizam quando levadas à orelha e escutadas com atenção.

A dignidade da água

A água escorre na sarjeta

Suja, turva

Noite

Luzes amarelas nos postes

A água reflete a luz

Seu movimento, suas pequenas ondas

Cumprem sua natureza

E, lindamente, refletem a luz amarelada

Apesar do seu maltrato

Sua podridão e tudo de mau

Que ela pode estar levando

Ela lindamente reflete a luz.


A paisagem, uma avenida triste

Com prédios gigantes e novos

Um pronto

E um em construção.

Não fosse a água, tão digna

E a luz do poste

Seria só melancolia.


A água ancestral

A mesma do começo do mundo

Me trouxe um rio de lirismo

E um sopro de alegria

Mesmo que suja e contaminada.

Gotas de amor

Sem um amor romântico

Sem um outro ter seu centro em mim

Sem eu ter meu centro num outro

Eu tomo gotas de amor que caem por aí

De pessoas desavisadas que me sorriem na rua

de crianças cheias de vontade

de ventos

de galhos de árvores que me fazem um carinho acidental

do chuveiro quentinho.

Na casa dos meus pais

o amor é servido em baldes

Entre os amigos o amor cai em gotas de garoa. Sereno amor.

No fim do dia

o amor está no meu odor

nas gotas de suor

o amor que dedico a mim

brota do meu trabalho.

A vida é uma batucada

O tempo, o ritmo. Tudo tem um tempo e um ritmo. O ideal é conseguir, em cada contato, escutar o ritmo e respeitar o tempo (o seu próprio, o dx outrx e o do encontro). No entanto, a ansiedade parece um botão de forward no nosso tempo. Eu não conheço bem meu tempo, eu só o sinto, mas não tenho controle sobre ele, e nem sobre as coisas que influenciam meu tempo, como as obrigações, as situações com as pessoas…

O tempo da fala não é o mesmo do pensamento.

E o tempo do pensamento não é o mesmo do sentimento.

Pro sentimento virar pensamento leva um tempo.

E pro tempo conseguir levar um sentimento, precisa de muito pensamento.

Mas, se tudo tem tempo e ritmo, a gente nunca está paradx, é só aguçarmos a escuta que uma música se organiza e uma dança a acompanha.

Eu escuto o mar batendo, as ondas suaves. Domingo em SP. As ondas são carros que passam ao longe e rasgam o ar, como as ondas. O burburinho ao longe, eu juro que é parecido.

Nos dias de semana, a cidade pela manhã, o som é tão louco.  É tão claro o momento em que começa o ronronar dos motores, no começo mais esparsos, sons de carros passando, depois uma massa sonora, um diapasão, o tom do dia é dado pelos motores. Parece que o sol veio e apertou o botão que liga a máquina una, aquela que começa a funcionar quando todas as máquinas estão funcionando juntas.

O ritmo das pessoas é diferente. Mesmo entrando no ritmo da cidade, ou da aldeia, cada pessoa carrega seu ritmo, seu tempo. E na verdade cada pessoa pode ter vários ritmos… e eles podem ir mudando. Não é uma questão de entender, porque entender é impossível, mas de sentir, de pulsar, de batucar junto.

14 vezes NÃO

Não falar por sentenças

Não buscar sempre e em tudo a verdade maior

Não ter certeza e certezas

Apenas estar e ouvir

Deixar que uma nova verdade surja

A cada momento

E a cada encontro.

Deixar silenciar se não houver mais o que dizer

Deixar silenciar se as palavras não forem suficientes

Não há ansiedade

Não há obrigação

Não há certo e nem errado

Não há nada – tudo está latente.

Não inventar – compartilhar

Não forjar – fomentar

Não forçar – fluir

Não amar – sentir

Não falar – ouvir

Não acertar – jogar.

A CIDADE DAS CRIANÇAS SELVAGENS

QUANDO AS CRIANÇAS SELVAGENS TOMAREM A CIDADE, 

A PRIMEIRA AÇÃO PARA A VIDA VOLTAR A CORRER LIVRE 

SERÁ A DE DEIXAR TUDO GRÁTIS. 

DINHEIRO NÃO SERVIRÁ PARA ABSOLUTAMENTE NADA 

NA CIDADE DAS CRIANÇAS SELVAGENS.

A SEGUNDA AÇÃO SERÁ LIBERTAR PRESOS E ANIMAIS.

TODOS OS SERES VIVOS TERÃO IGUAL VALOR.

SÓ SERÁ CONVOCADO PARA O TRABALHO 

AQUELE QUE GOSTAR DO QUE FAZ. 

AQUELES QUE SE DIVERTIREM TRABALHANDO 

(E TRABALHAR NÃO TERÁ MAIS ESSE NOME, QUE É QUASE O MESMO QUE CASTIGO) 

O DEVERÃO FAZER SOMENTE QUANDO ESTIVEREM A FIM.

TUDO PODERÁ E DEVERÁ SER TOCADO.

TUDO FICARÁ ABERTO 24H.

NÃO HAVERÁ HORA CERTA PARA NADA. 

TODA HORA SERÁ HORA DE QUALQUER COISA.

NÃO EXISTIRÃO CONVENÇÕES. 

CRIAREMS REGRAS VOLÁTEIS 

QUE COMBINAREMOS ANTES DE CADA BRINCADEIRA. 

ACABADA A BRINCADEIRA 

AS REGRAS PERDERÃO A VALIDADE.

TODAS AS BRIGAS DEVERÃO SER RESOLVIDAS SEM DEMORA E, DE PREFERÊNCIA, SEM AGRESSÕES.

A MALDADE NÃO SERÁ ENSINADA NEM ESTIMULADA, 

A GENEROSIDADE SIM.

PEDIR AJUDA NÃO SERÁ HUMILHANTE, 

AJUDAR NÃO SERÁ UM FAVOR.

NENHUM MEIO DE TRANSPORTE PODERÁ TER VELOCIDADE TAL QUE NÃO CONSIGA PARAR PARA UM CÃO ATRAVESSANDO A RUA OU UMA PESSOA ATRÁS DE UMA BOLA.

NENHUMA PESSOA TERÁ O PODER DE DAR ORDENS A OUTRA PESSOA.

Besta romântica

Tenho andado meio besta

Quase apaixonada.

Vejo pessoas no metrô

Aquele moço combina tanto

Com aquela menina.

Estão ali, tão próximos e tão distantes

Um passo para trás

Um pisão no pé do outro

E um milagre.

Tanto amor em potência

Casais, amigos, parceiros latentes.

Ando meio besta

Molinho molinho

Está o meu coração.

Machuca ele não…

2, 4 ,8, 12…

EU TENHO DOIS ROSTOS

TENHO QUATRO, OITO, DOZE ROSTOS

A MAIOR PARTE DO TEMPO

EU NÃO SEI QUE CARA TENHO

.

QUANDO INVENTO ME SAI DO AVESSO

SE RELAXO, SAI ESCRACHO

NÃO PLANEJO, NÃO CONTROLO

QUAL DOS MEUS ROSTOS

ESTÁ A POSTOS

.

VOLTO TARDE DOS DEVANEIOS

OS OLHOS ESBUGALHADOS

A BOCA TENSA

QUE CARA TENHO

QUANDO OLHO PRA DENTRO?

Esquadrilha da fumaça – Marcha da Maconha 23.05.15

Marcha / Dança da Maconha


Ei, polícia, maconha é uma delicia!

Ei, maconha, polícia é uma vergonha!

Ei, delícia, maconha pra polícia!


Marcha em 5 fumaças:

Fumaça 1 – maconha.

Fumaça 2 – fumaça dos sinalizadores verdes.

Fumaça 3 – escapamento da kombi que carregava a banda.

Fumaça 4 – churrasquinho ambulante junto da marcha.

Fumaça 5 – Maldito Palo Santo.


A marcha e a dança. Qual a diferença?


A marcha é em tempo de 2. 1. 2. Um passo, outro passo.O quadril preparado para apenas permanecer sobre as pernas. Caminha: 1,2.

A dança vem do caminhar com suíngue. Vem do ritmo que toca para fazer das ruas carnaval, e não passagem de tropa.

O que acontece entre o 1 e o 2 é um universo! Um universo de coisas que o quadril pode fazer, e os ombros, os braços, mãos, a cabeça, o olhar…