A dignidade da água

A água escorre na sarjeta

Suja, turva

Noite

Luzes amarelas nos postes

A água reflete a luz

Seu movimento, suas pequenas ondas

Cumprem sua natureza

E, lindamente, refletem a luz amarelada

Apesar do seu maltrato

Sua podridão e tudo de mau

Que ela pode estar levando

Ela lindamente reflete a luz.


A paisagem, uma avenida triste

Com prédios gigantes e novos

Um pronto

E um em construção.

Não fosse a água, tão digna

E a luz do poste

Seria só melancolia.


A água ancestral

A mesma do começo do mundo

Me trouxe um rio de lirismo

E um sopro de alegria

Mesmo que suja e contaminada.

Damnant speculatores

Malditos sejam os especuladores imobiliários

Porque eles criam os infernos das nossas cidades!

Malditos sejam aqueles que transformam a terra em mercadoria

Porque essa mercadoria também há de comê-los!

Malditos sejam os que negam teto ao desabrigado

Porque, para eles, não haverá abrigo em nenhum coração!

Malditos sejam os que apagam histórias

Porque suas histórias também serão apagadas!

Malditos sejam os que destróem nossa paisagem

Porque, da nossa paisagem, eles serão destruídos!

Malditos sejam os que arrombam a terra com máquinas

Porque, quando cavam, estão se aproximando do inferno!

Amaldiçoados sejam todos aqueles que fazem do trabalho humano e da terra seu lucro

Porque o lucro irá corroê-los e deixá-los sem alma.

Revoluciona-Rio

Eu só rio

Se tu, rio,

Não for cenário

Do inferno fundiário

Que te faz acessório

de negócio conspiratório.


É mesmo muito contraditório

Jogar esgoto depredatório

E vir com discurso doutrinário:

“É progresso!” Ai, que delírio!

Só se progresso for martírio.


O nefasto império fundiário

Que faz dinheiro com o território

É perverso e hilário

Faz do nosso imaginário

Um desterro imobiliário

Sobe prédio inglório

Pra encher de funcionário

Que só ganha 2 salário.


Ó maldito latinfundiário

Da cidade, do campo e do cemitério

Você não passa de um mercenário

Um missionário

A serviço de um plano monetário

Que te torne milionário.


Mas você anda solitário

Seu ideal é precário

Te denunciar é necessário!


O rio é um santuário

Ele me torna revolucionário

Me dá até um calafrio

Pensar no mundo sem rio.