PASSION FRUIT – A fruta da paixão

O maracujá, eu o desejo tanto! Desde quando ganhei uma muda espero pelo maracujá. O pé é fraco e não deslanchou, mas também não morreu. 

Eu, na ânsia de fazer tudo o que eu podia para melhorar a vida daquele serzinho, ia conduzindo os ramos para um barbante, onde eles poderiam se agarrar e ganhar mundo. Acontece que toda vez que fui querer juntar o ramo do maracujá com o barbante eu enverguei demais o ramo e ele levemente se quebrou. E assim, com minha ansiedade, eu atrasava o rolê dele e, consequentemente, o meu.

Mas agora tem um ramo novo, todo forte. Ele não está indo na direção do barbante, mas está crescendo sem precisar se agarrar em nada! Se eu conseguir não quebrá-lo com minha ansiedade e tudo aquilo que eu acho que é melhor para ele, acho que, quem sabe, eu consiga um dia colher maracujás. É só não tocar nele, não esperar tanto dele, deixar que cresça como e para onde quiser.

É a fruta da paixão, é a flor roxa que nasce no coração dos trouxa! – pensei. Esse é o ensinamento que o  pé de maracujá tem me dado.

No incerto também mora o valor

Fiz descobertas preciosas sobre o amor e o apego. Gostaria de compartilhá-las.

O amor, o fascínio, o mistério, são coisas difíceis de se entender. Daí vem a minha confusão com o apego, que é essa vontade de controlar, de segurar o momento, o tempo, para ver se ganho tempo para conseguir decifrar e assim viver plenamente a experiência do amor, do mistério e do fascínio. Não compreendo o fenômeno porque é imenso, então procuro ter mais tempo, buscando uma visão total desse encontro com o outro, com o mistério, com o amor, com o infinito.

Só que o apego é o oposto desse fenômeno abismal de descoberta de novos universos. Porque é só na experiência da troca e do encontro que o amor se realiza plenamente, e esse encontro é exatamente o que está acontecendo agora. Qualquer tentativa de controlar o tempo e o outro depõe contra o amor.


Se o que busco através do apego a ideias pré-concebidas é eternizar o encontro, é importante reconhecer que é no viver plenamente o encontro  que verdadeiramente eternizo o fascínio, o mistério e o amor. Não pensar num tempo futuro quando estiver vivenciando algo no presente – não me ausentar do presente nem por um instante (ou ao menos enquanto estiver acontecendo um encontro valioso).


O apego é o medo da falta. Se durante um encontro eu ficar pensando que a ausência daquilo vai me fazer falta, o resultado é que, enquanto acontecia o encontro, eu estava pensando no não-encontro.

Os encontros precisam de calma e pressa. Calma para não se desesperar com o futuro e a perda que virá certamente, porque o futuro é a produção do passado. Pressa porque temos consciência do passado e do futuro, da efemeridade da vida. Calma para gozar sensorialamente e intelectualmente de todas as mirabolantes variações do destino, pressa para não perder o tempo da possibilidade. Calma para entender que existe o eterno, mas praticamente nada ao meu redor é eterno; e pressa exatamente porque para nós a eternidade não é nada além de promessas vazias de religiões que mercantilizam o desespero.

Me ensinaram que o valor está no certo, no garantido, mas percebi que no incerto também mora o valor. 

Para Dona Emma, Dona Adélia e Dona Ana Dulce

Existem tristezas e lágrimas

Que são evitáveis

De certo modo até

Escolhidas.

Outras são abismos:

Saber que o tempo é infinito,

Mas, para os humanos,

Ele acaba…

Para mim e para os meus

(Que é tudo o que eu reconheço

De belo e cheio de sentido e vida)

O fato é que vai acabar.

Eu penso nas gerações

O neto   a neta

O pai     a mãe

O avô    a avó

É tanto tanto tanto amor

E o tempo implacavável

Vai separar

Vai criar o abismo.

E só de pensar… só de saber…

Já dói.

A neta e a avó

Tem pouco tempo

Para trocarem tudo o que podem

Para se conhecerem

Para conviverem.

A natureza é tão dura

e tão bela.

A guerreira que não se cansa

Sua cria ela defende com justiça

A sabedoria que traz

Não é ostentada,

O preço da luta

Não é calculável.

A urgência começa a urgir

O tempo se esgota

O mundo ainda precisa dela

E ela ainda quer lutar.

Dentro dela a vida reluz

Como brilho de diamante.

A proximidade da morte

A faz amar ainda mais a vida

E olhar para tudo com carinho

E gratidão, com cuidado

Com saudade.

Eu olho para ela,

Eu tenho pouco tempo

Para aprender tudo

Para conhecê-la

Para dizer a ela que a amo

E que vou continuar sua obra!