Para Dona Emma, Dona Adélia e Dona Ana Dulce

Existem tristezas e lágrimas

Que são evitáveis

De certo modo até

Escolhidas.

Outras são abismos:

Saber que o tempo é infinito,

Mas, para os humanos,

Ele acaba…

Para mim e para os meus

(Que é tudo o que eu reconheço

De belo e cheio de sentido e vida)

O fato é que vai acabar.

Eu penso nas gerações

O neto   a neta

O pai     a mãe

O avô    a avó

É tanto tanto tanto amor

E o tempo implacavável

Vai separar

Vai criar o abismo.

E só de pensar… só de saber…

Já dói.

A neta e a avó

Tem pouco tempo

Para trocarem tudo o que podem

Para se conhecerem

Para conviverem.

A natureza é tão dura

e tão bela.

A guerreira que não se cansa

Sua cria ela defende com justiça

A sabedoria que traz

Não é ostentada,

O preço da luta

Não é calculável.

A urgência começa a urgir

O tempo se esgota

O mundo ainda precisa dela

E ela ainda quer lutar.

Dentro dela a vida reluz

Como brilho de diamante.

A proximidade da morte

A faz amar ainda mais a vida

E olhar para tudo com carinho

E gratidão, com cuidado

Com saudade.

Eu olho para ela,

Eu tenho pouco tempo

Para aprender tudo

Para conhecê-la

Para dizer a ela que a amo

E que vou continuar sua obra!