Se a noção de espaço muda (interfere) na noção de tempo, então quem se desloca no espaço também se desloca no tempo. Quem anda muito de metrô, por estar em um não-espaço, um túnel, sem nenhuma conexão com o lugar correspondente na superfície, quem fica muito neste não-lugar tem um pouco do seu tempo roubado.
Sim,
todos que gastam horas no transporte perdem seu tempo de vida pois o
não-lugar, ou a falta de qualquer referência de lugar, faz com que as
pequenas coisas que variam na cidade – no sempre mesmo percurso – não
sejam vistas, vivenciadas. Mesmo sendo o mesmo caminho todo dia, se você
olha para a paisagem, sempre algo diferente vai surgir, e isso dá a
noção de vida, de movimento, de tempo.
Esse
preto do túnel tem um preço bem alto, nos custa o tempo, que nunca é
nosso. Talvez isso seja um dos motivos das pessoas serem tão ansiosas no
metrô. Nas linhas que têm a parte aberta, com o metrô correndo na
superfície, é perceptível um suspiro de alívio no ar quando o trem sai
no túnel e encontra a luz do sol.