Adeus, São Paulo!

Adeus, São Paulo!

Minha São Paulo querida!

Ah, deu, São Paulo!

Eu já estou de partida.

Eu acreditei no sonho

De uma cidade assim

Você olha o horizonte

E ele não tem fim

Mas isso não é possível

É um sonho irreal

Uma cidade mais justa

Se quem manda é o capital!

Eu planto uma árvore

Na praça faço agricultura

Vem alguém e arranca tudo

E esse alguém é da prefeitura!

Essa cidade é tão dura

Mas também é generosa

Tem gente de tudo que é jeito

Tem o espinho e tem a rosa.

Vejo sempre muito respeito

Muita força e união

Vejo garra e coragem

Vejo amor e revolução

Cada dia um milagre acontece

E eu vibro de tanta emoção

Mas não deixam fluir a prece

Da nossa organização.

É tanto prédio vazio

E tantas pessoas nas ruas

Às vezes faz muito frio

E a coberta é a luz da lua.

Canalizam e asfaltam

Desocupam e demolem

Escolhem a dedo os lugares importantes

E destroem!

Metrô – o buraco nosso de cada dia

Se a noção de espaço muda (interfere) na noção de tempo, então quem se desloca no espaço também se desloca no tempo. Quem anda muito de metrô, por estar em um não-espaço, um túnel, sem nenhuma conexão com o lugar correspondente na superfície, quem fica muito neste não-lugar tem um pouco do seu tempo roubado. 


Sim, todos que gastam horas no transporte perdem seu tempo de vida pois o não-lugar, ou a falta de qualquer referência de lugar, faz com que as pequenas coisas que variam na cidade – no sempre mesmo percurso – não sejam vistas, vivenciadas. Mesmo sendo o mesmo caminho todo dia, se você olha para a paisagem, sempre algo diferente vai surgir, e isso dá a noção de vida, de movimento, de tempo. 


Esse preto do túnel tem um preço bem alto, nos custa o tempo, que nunca é nosso. Talvez isso seja um dos motivos das pessoas serem tão ansiosas no metrô. Nas linhas que têm a parte aberta, com o metrô correndo na superfície, é perceptível um suspiro de alívio no ar quando o trem sai no túnel e encontra a luz do sol.