Vejo rostos sem nariz
Caras sem bocas
As pessoas falam
Mas a boca não tem
De repente
Num gesto
A boca aparece
E a pessoa sem boca
E sem nariz
Fica
Inteira.
Vejo rostos sem nariz
Caras sem bocas
As pessoas falam
Mas a boca não tem
De repente
Num gesto
A boca aparece
E a pessoa sem boca
E sem nariz
Fica
Inteira.
Sempre me impressionou o rosto dos mortos, como é diferente da expressão da pessoa viva. Parece mesmo outra pessoa, irreconhecível.
Isso me faz pensar que o nosso rosto vivo é composto muito mais pela expressão que damos a ele, através de tensões e relaxamentos, do que alguma natureza, genética ou estética (predominantemente). E quando a pessoa morre é que percebemos que expressão ela dava a si mesma.
Não existe natureza e neutralidade quando se trata da formação do nosso caráter e personalidade. Mas o que de fato a gente escolhe quando formamos nosso ser?
Me parece que escolhemos apenas como lidar com as forças que agem sobre nós, mas jamais essas forças são controladas por nós. E o nosso rosto vivo é o resultado dessa lida.
Já nosso rosto morto é o resultado de nenhuma força e nenhuma lida, é um rosto que jamais conheceremos em vida.
EU TENHO DOIS ROSTOS
TENHO QUATRO, OITO, DOZE ROSTOS
A MAIOR PARTE DO TEMPO
EU NÃO SEI QUE CARA TENHO
.
QUANDO INVENTO ME SAI DO AVESSO
SE RELAXO, SAI ESCRACHO
NÃO PLANEJO, NÃO CONTROLO
QUAL DOS MEUS ROSTOS
ESTÁ A POSTOS
.
VOLTO TARDE DOS DEVANEIOS
OS OLHOS ESBUGALHADOS
A BOCA TENSA
QUE CARA TENHO
QUANDO OLHO PRA DENTRO?