Adeus, São Paulo!

Adeus, São Paulo!

Minha São Paulo querida!

Ah, deu, São Paulo!

Eu já estou de partida.

Eu acreditei no sonho

De uma cidade assim

Você olha o horizonte

E ele não tem fim

Mas isso não é possível

É um sonho irreal

Uma cidade mais justa

Se quem manda é o capital!

Eu planto uma árvore

Na praça faço agricultura

Vem alguém e arranca tudo

E esse alguém é da prefeitura!

Essa cidade é tão dura

Mas também é generosa

Tem gente de tudo que é jeito

Tem o espinho e tem a rosa.

Vejo sempre muito respeito

Muita força e união

Vejo garra e coragem

Vejo amor e revolução

Cada dia um milagre acontece

E eu vibro de tanta emoção

Mas não deixam fluir a prece

Da nossa organização.

É tanto prédio vazio

E tantas pessoas nas ruas

Às vezes faz muito frio

E a coberta é a luz da lua.

Canalizam e asfaltam

Desocupam e demolem

Escolhem a dedo os lugares importantes

E destroem!

Valha-me Anhangá!

Você que vê o rio
E quer canalizar
Anhangá vai te afogar!

Você que vê o peixe
E quer logo pescar
Anhangá vai te fisgar!

Você que vê bicho
E só pensa em matar
Anhangá vai te caçar!

Você que vê a mata
E quer derrubar
Anhangá vai te cortar!

Você que vê gente
E já quer explorar
Anhangá vai se vingar!

Você que vê curva
E quer retificar
Anhangá vai te emendar!

Você que vê terra
E já vem asfaltar
Anhangá vai te enterrar!

Você que vê público
E quer privatizar
Anhangá vem te buscar!

Você que está certo
De que nesse mundo
Justiça não há
Quando dormir
E começar a sonhar
Verá o implacável Anhangá.

Ele vem e não há de falhar
Quando ele assobiar
Não adianta correr
Não adianta implorar
Nem tente se esconder
Pois ele há de te achar.