Pelo metrô de SP…

*Certo dia eu estava descendo as escadas do metrô e duas moças, amigas entre si, se alinharam comigo, uma de cada lado e entraram no meu ritmo. Elas não pararam de conversar, mesmo eu estando ali, entre elas. Isso me fez sentir automaticamente a inexistência, a minha insignificância. Mas também me deu uma posição inteiramente nova num diálogo, uma narradora observadora muito de perto, estar no entre, um ângulo inusitado… descemos metade da escada assim. Só não foi bizarro porque foi surreal. Alinhamentos. E desalinhamentos.

*Estava dentro do trem e queria rir. Lembrei de uma amiga que entrou correndo pela porta e sua mochila ficou presa na porta e ela é muito engraçada, numa situação dessas, então…

Só sei que não consegui mais controlar minha cara de nada e comecei a rir. Eu estava sozinha. Parei… tentei parar de rir quando vi as pessoas ao meu redor me olhando. Não queria mais rir, mas ri mais ainda. Incapaz de me conter, comecei a esconder a minha cara. Achei ridículo, perdeu a graça.

Perfeição

O que me faz pensar que posso atingir a perfeição? Por que, aliás, eu a desejaria, se no fim ela está acabada e só o que existe é o movimento? Não existem, por acaso, pretensões mais nobres e menos tediosas do que atingir esse estado que não existe? E o gosto amargo do erro? Como posso pensar que sou capaz de fugir dele? Posso gostar desse amargo como aprendi a tomar café sem açúcar. Posso me expor ao erro e ao olhar do outro, porque assim serei menos ridícula do que tentando a perfeição. Não há defesas garantidas, não se pode ter preguiça da luta diária. E o acaso é tão íntegro que cumpre seu papel sem se importar com as formalidades sociais.      O acaso existe, a perfeição não.