Ingovernáveis

Eu passo naquelas avenidas

Que estão próximas aos rios

Vejo canais de cimento

Vez ou outra

Parece que esqueceram uma pedra.

Que esperança que dá

Daquele rio correr limpo de novo

Fazer seu curso

Lambendo as pedras com carinho.

É novembro

Caem chuvas abundantes

Quero comemorar a chuva

Nossa querida chuva

Mas moro em São Paulo

Aqui, ora a chuva é uma bênção

Ora uma maldição

Que derruba morros

Que alaga bairros

Que deixa pessoas ilhadas, exaustas, famintas.

A chuva, o rio, a água

Não podemos contê-los

Temos que parar de tentar

Controlá-los

É mais fácil e eficaz

Procurar conter

A ganância e o capitalismo.

A água, o rio, a chuva

São ingovernáveis.

Oxum, fala comigo?!

Hoje descobri que sou de Oxum. Ela vem me orientando. Fala comigo, Oxum. Vem no meu sonho sussurrar, como um rio que desce pelas pedras. O que se pode fazer? Fala comigo, Oxum, me usa para limpar os rios. Abre os caminhos das minhas ideias. Como posso ser instrumento de proteção e recuperação dos rios da minha terra?


Eu escuto “derrube o capitalismo” sussurrado em meu ouvido desde que me conheço por gente, agora eu sei, é ela…


Mas como, Oxum, como?