O dia em que beijei uma rosa

Já faz tempo que aconteceu. Eu tinha uma rosa amarela. Eu não a tinha, ela era minha, mas logicamente não me pertencia. Eu a comprei para tomar um banho com ela, receita do caboclo. Mas quando cheguei em casa, fui incapaz de colocá-la na água fervente. Ela era exuberante, tão viva e plena, muito amarela e suave, não poderia ser morta. Decidi esperar ela ir morrendo para fazer o banho, e ir curtindo a cozinha com aquela hóspede tão singela e exuberante. Ela ficou na mesa por um bom tempo e não perdia sua beleza com o tempo. Quando fazia minhas refeições ela me fazia companhia e eu a observava demoradamente e muito admirada. Acho que nos apaixonamos. Além da sua beleza irracional, ela tinha um cheiro suave, doce e delicado. E, sem exageros (porque todos sabem que, em se tratando de uma rosa, nada é exagero), ela era deliciosamente aveludada, acariciá-la levemente era extremamente prazeroso. Um dia, com os dedos perdidos entre as pétalas, senti necessidade de mais sensibilidade. Os dedos têm as pontas com a pele grossa, não são a parte mais sensível do corpo, era preciso tocar com os lábios, que têm a pele mais fina. Toquei, me perdi entre as pétalas. Foi assim que eu e a rosa nos beijamos.