O chão duro da cidade

Andando pelas ruas de São Paulo vejo pelo chão cabelos, fezes, urina, sangue, porra, pus, saliva, lágrimas, unhas, peças de roupa e sapatos usados. Pedaços de pessoas e pessoas aos pedaços. O chão da cidade é feito de massa humana. Partes que se descolam do ser, tudo no chão na cidade. Partes de corpos inteiros e despedaçados, expostos na sua decomposição, corpos insepultos, desprovidos de qualquer intimidade – no amor, nas necessidades e na morte.

A sensação não é exatamente nojo, o que revira meu estômago é a indignidade, a exposição crua das entranhas das pessoas que sentem fome, frio, e se despedaçam, como eu, mas em público, no chão sujo de outras pessoas.