Dona Lúcia

As histórias daqueles que não foram famosos, celebridades, lideranças, daqueles que trabalharam e só trabalharam, que criaram seus filhos com sacrifício, essas histórias, se não forem escritas ou gravadas, serão esquecidas?

A vida cotidiana sem muito brilho e oportunidades para homenagens e solenidades , as vidas das milhões de pessoas que todo dia levantam cedo e vão trabalhar para mover este sistema, essas vidas acabarão e um dia será como se nunca tivessem existido?

Minha mãe, meu pai, minha avó, D. Lúcia, D. Adélia… quem vai registrar essas histórias? Ou será que faz parte dessa vida passarmos, assim, sem marcas, como um rio suavemente corre em seu leito, e só o trabalho de muitos, como o volume de água do rio, é que traz as transformações?

Por medo de esquecer, em homenagem à D. Lúcia, vou deixar escrito algumas coisas que sei dela:

– era camponesa, japonesa, só sabia escrever e ler em japonês, era órfã e foi criada pelo seu tio, trabalhou desde criança, teve dois filhos e seis netos. Era justa, simples, guardava tudo com cuidado porque sabia o que era a falta. Sabia costurar, era ótima de conversa, tinha boa memória. Dizia Prudente Prudente em vez de Presidente Prudente, tinha pouca vaidade mas estava sempre muito limpinha e penteada. Quando mais nova fazia permanente. Nunca a ouvi levantar a voz. Agradecia a cada refeição – obrigada!

Por enquanto me lembro de muitas coisas, não vou escrever tudo porque daria um livro. Espero não me esquecer!

D. Lúcia era minha amiga, e quem disse isso foi ela! Eu concordei!