Damnant speculatores

Malditos sejam os especuladores imobiliários

Porque eles criam os infernos das nossas cidades!

Malditos sejam aqueles que transformam a terra em mercadoria

Porque essa mercadoria também há de comê-los!

Malditos sejam os que negam teto ao desabrigado

Porque, para eles, não haverá abrigo em nenhum coração!

Malditos sejam os que apagam histórias

Porque suas histórias também serão apagadas!

Malditos sejam os que destróem nossa paisagem

Porque, da nossa paisagem, eles serão destruídos!

Malditos sejam os que arrombam a terra com máquinas

Porque, quando cavam, estão se aproximando do inferno!

Amaldiçoados sejam todos aqueles que fazem do trabalho humano e da terra seu lucro

Porque o lucro irá corroê-los e deixá-los sem alma.

Os barra-vidas

Tudo se organiza para a sobrevivência, só o capitalismo e o Estado é que se organizam para a extinção. 
Eles são barra-vidas. 
Barram estrategicamente todas as nossas formulações de um mundo melhor, para que não encontremos a saída. 
Propõem caminhos que levam a labirintos: consumo, igrejas, padrões, formas de produção material e de subjetividades. 
Nós somos o capitalismo, nosso corpo é seu suporte. 
O capitalismo nos usa, e usa à Terra para existir se manter.
A Terra claramente resiste a ser esse suporte, faz frente como pode, adaptando-se na medida do possível, mas, principalmente, cumprindo seus desígnios e apresentando suas consequências – que parecem querer vomitar o Homem, como um organismo estranho e parasita que trabalha contra o funcionamento harmônico do todo.
Nosso corpo também resiste. Resiste muito. 
Mas para além da resistência para a sobrevivência individual, assim como nosso corpo é vetor de algo maior como o capitalismo, temos que emprestá-lo para a luta.
Para sobrevivermos todxs, e a Terra, não vai bastar nossa resistência individual, precisamos ir além do nosso corpo, temos que nos organizar, ou seja, desenvolvermos órgãos que trabalham em conjunto. Precisamos dessa força ou não sobreviveremos e não sobreviverá a Terra como a conhecemos.
Quem nos barra? Como podemos abrir espaço para que as organizações autônomas possam acontecer? 
Temos que compreender quem nos barra! 
O maior medo de quem barra nossas vidas é que a gente saiba (e muitxs já sabem) que somos nós mesmxs que fazemos tudo funcionar, só que organizadxs por elxs. 
Temos que aprender com quem resiste e faz algo funcionar por si próprix, estxs são xs mais perseguidxs… já pensou se contam para todxs que podemos fazer as coisas funcionarem por nós mesmxs?
Até onde eu entendo o termo “esquerda”, ele pressupõe uma ideologia que luta pelo fim do capitalismo, ou, ao menos, pelo fim daquilo que gera as opressões no mundo, o que é a mesmíssima coisa. 
Mas em relação ao Estado não se entende unanimemente que ele  deve ser combatido como uma entidade que nos oprime. 
Como ainda se pode cogitar a convivência com o Estado se esse nos massacra? 
O Estado é autoritário e violento por natureza, não há ideologia democrática que possa mudar isso.
O Estado é fascista, ora declaradamente, ora disfarçadamente.
Com o fascismo, como dizem, não tem conversa. 
Nós não conseguiremos convencê-los, os poderosos, de nada. Eles têm um projeto e o estão executando.
E nós, qual o nosso projeto?
Disputar esse poder, o Estado, ou criar formas nossas de vivermos sem opressão?
Se ficarmos na diputa pelo poder, já era. Acabou o tempo. Acabou a vida.
Guerras, lutas perdidas, caminhos já conhecidos…
O poder, assim como o capitalismo, não é natural, foi inventado e organizado para se manter.
O Estado é um executor das sentenças do capitalismo.
O Estado teve a sua chance de mostrar à esquerda e ao mundo que pode salvar-nos do capitalismo. Não pode porque o capitalismo e o Estado estão juntos desde sempre. Está mais do que provado que o Estado serve ao capitalismo, ou ao domínio de uns sobre outrxs.
Como pensamos nossa relação com o Estado define todas as estratégias que venhamos a ter.
O Estado divide a esquerda.
O Estado é da direita.