O cheiro das ervas

Abro o forno e em ondas quentes o alecrim, o manjericão e o alho, aquecidos pelo azeite, invadem meu corpo e me trazem uma memória ancestral. Os bosques verde-escuro, as casas de pedra, o fogo. Me lembram do frio e do aquecimento, do acolhimento que o odor da comida dá à minha fome ancestral. E é verdade. Eu como hoje as mesmas plantas que comiam meus ancestrais. O alecrim, o alho… é o mesmo alho! Ou quase? É o mesmo fogo, a mesma batata, o mesmo ser humano que come, no entanto, está tudo diferente. Na estrutura das células mora nossa memória ancestral. No cheiro do alecrim eu percebo que minhas células são antigas, tão antigas quanto a humanidade. 

Hoje vi uma goiabeira em más condições, no meio de um cruzamento, espremida num canteiro apertado, cheia de fuligem e com o cimento impedindo seu crescimento e a absorção de água. Ela, contudo, tinha algumas poucas flores, e se a deixassem em paz ela certamente daria perfeitas goiabas. As mesmas goiabas de sempre. Ou quase.