Frankstein fascista

Essa noite tive um sonho revelador.


Estávamos no meio de um tiroteio, parecia o Rio de Janeiro (acho que fui influenciada pela intervenção federal militar). Eu tentava levar algumas crianças para algum lugar seguro. Atravessamos o tiroteio e nos abrigamos em uma casa. Tudo era uma grande guerra. Pânico generalizado. Mas eu respirava aliviada porque tinha conseguido entrar em uma casa. Da garagem dessa casa, eis que surge um grande monstro. Um Frankstein. Ele era levado pela mão por um dos nossos. Um grande silêncio se fez. Pavor total. Que nem o Jaspion e todas as séries japonesas, que depois que eles conseguiam matar o inimigo surgia uma versão ainda maior e mais perigosa. O monstro tinha despertado e estava à solta, o exército estava com ele. Foi então que ele veio na minha direção. Ele tinha uma metralhadora. Eu achei que ia morrer, consegui pegar uma vassoura vermelha que estava por perto. Ele veio na minha direção. Fechei os olhos e enfiei com toda a minha força a vassoura no pescoço dele. Nunca imaginei que teria força para isso. Ele não me matou. Não sei se o matei.


Acordei, de novo a realidade da ascensão do fascismo ronda o mundo. Candidatos e governantes assumidamente racistas, homofóbicos, machistas, xenofóbicos inundam as notícias logo pela manhã. 


Minha interpretação do sonho: se algo em mim ainda não estava se conformando com essa realidade tão boçal, agora até minhas camadas mais incoscientes já se deram conta de que é isso mesmo. Lá de dentro, de lugares longínquos da minha mente, veio a única mensagem que ainda faz sentido: é preciso enfrentar, lutar. Eles têm armas, eles têm monstros, mas se eu mirar na jugular, eu terei uma chance.

Os mistérios…

O que é intuição?

É ter certeza sem ter fundamento.

É ter fundamento e não ter certeza.

Pensar e concluir lógica e racionalmente algo,

e não conseguir tirar da sua cabeça a dúvida.

Intuir é sentir que o assunto não está acabado

apesar de parecer resolvido.

É amar ou odiar sem motivo aparente 

mas com intensidade extrema.

É uma fé que não tem intermediário.

Já ter a resposta antes de formular a pergunta.

O que é destino?

Destino é o que vai acontecer 

mesmo que se procure direcionar o futuro em outra direção.

São os obstáculos que se apresentam e mudam o curso da vida.

É o acaso inteligente, 

a sorte no azar, 

ou o azar na sorte.

É o mar no fim do rio.

Deixamos de ser pobres quando nos organizamos

Que nosso sistema politico-econômico-ideológico está falido é certo, temos (quase) consenso em relação a isso. Muitxs dos que ainda não admitiram que o sistema tem que cair e outra forma de organização deve vir em seu lugar não o fizeram por não entenderem (ou acreditarem) que outra forma de se viver em sociedade seja possível. Mesmo aquelxs que lutam para que o sistema capitalista estadista caia ainda não sabem ao certo como seria esse outro mundo que estamos propondo. Nós também não sabemos, na verdade, ninguém sabe, mas, partindo do pressuposto de que o capitalismo está levando não só a humanidade, mas o planeta inteiro e todas as formas de vida nele existentes ao colapso, podemos pensar que pior que isso não parece plausível que fique. O anarquismo, em sua ética contrária à autoridade, à centralização, à hierarquização carrega consigo o antídoto da noção de erro quando escolhe a experimentação como forma de descoberta e conhecimento.

Mais do que fórmulas para se chegar a um determinado fim, pensamos em princípios, pontos de partida, para que muitos caminhos e muitos fins sejam possíveis. A importância da não representatividade surge pois, além de vivermos na pele a sua comprovação de ineficácia – pelo contrário – de perversidade, também podemos pensar que, em teoria, não funciona, pois a concentração de poder tende à concentração de poder, e concentração de poder = arbitrariedade, abuso, privilégios. Nunca ninguém saberá o que todas as outras pessoas precisam, porque a autonomia e a autodeterminação são premissas para uma vida digna e principalmente porque poder não se delega, ou somos políticos ou não somos, e então nos tornamos esvaziados, expropriados do poder sobre nossas vidas.

Quando pensamos em organização social acabamos por pensar nos termos do Estado-Nação que nos foram apresentados pela divisão geográfica nos mapas, com a ideia de território nacional, hino nacional, cultura nacional, língua nacional, constituição do país e seu governo. Essas fronteiras e delimitações são criações abstratas, apesar de sua consequência ser bastante concreta, mas para que tudo isso exista é preciso de uma ação legitimadora chamada “voto”. Essa tentativa de transformar o que é múltiplo e plural em único, uno, unificado, é feita à base de muita violência, etnocício, genocídio, injustiças, expropriações e de um exército nacional.

De saída já podemos pensar que o sistema é econômico e político (em sua base material) e que, para superá-lo, temos que pensar em duas frentes: a nossa organização e o nosso abastecimento. O sistema também é judicial – teremos que nos debruçar cuidadosamente sobre essa questão, mas isso daria um outro texto…

As ideias de organizações sociais mais justas e horizontais renegam a centralização e delegação de poder e se baseiam em reuniões horizontais de pessoas que têm algo em comum, sejam seus interesses, o lugar onde moram, suas profissões ou seus prejuízos. Murray Bookchin, em seu “Municipalismo Libertário” dizia que antes dos Estado-Nações a política era feita pela população em nível comunitário nas assembleias cidadãs diretas. Isso antes dos políticos se tornarem profissionais e burocratas.

Não é à toa que muitas ideias de novas formas de se viver em sociedade venham do passado, das tribos, das aldeias, das comunas. Essas sociedades não tinham a propriedade privada, não tinham transformado a terra em mercadoria, fato que determinou e determina toda a nossa forma de ver e vivenciar a terra e a vida na Terra.

Eis mais uma premissa: para uma que uma organização popular possa ser de fato popular, é preciso que não exista propriedade privada, nem estatal, pois o Estado também é um proprietário. Ser estatal não é o mesmo que ser público.

Mas para que uma organização popular possa ser eficaz é preciso que haja uma nova prática do ser político. Bookchin afirma que mesmo em uma organização que seja gerida a partir de assembleias diretas é preciso que o “cidadão” esteja em constante formação e discussão política. “Mas limitando a vida política unicamente às assemebleias cidadãs, corria-se o risco de ignorar a importância de seu enraizamento numa outra cultura política fértil feita de discussões públicas cotidianas, nas praças, nos parques, nas esquinas das ruas, nas escolas, nos albergues, nos círculos etc. Discutia-se política em toda parte, preparando-se para as assembleias cidadãs, e tal exercício cotidiano era profundamente vital.”

Avançando um pouco no tempo, existiram insurreições urbanas que procuraram se valer de assembleias para sua organização. Na contra-mão de uma cartilha, o Comitê Invisível questiona em seu notável “Aos nossos amigos” a figura suprema da assembleia na atualidade. “Em Oakland como em Chapel Hill, acabou por se considerar que a assembleia não tinha nenhum direito em validar o que este ou aquele grupo podia ou queria fazer, que ela era um local de partilha e não de decisão. Quando uma ideia emitida em assembleia vingava, era simplesmente porque um conjunto suficiente de pessoas a consideravam boa para lhe concederem os meios de a pôr em prática e não em virtude de qualquer princípio de maioria. As decisões vingavam ou não; elas nunca eram tomadas.” Esse questionamento surge porque a assembleia também tem implicações relativas às decisões e à centralização de poder. Essa lógica pode ser mudada se pensarmos nas assembleias como espaço de discussão muito mais do que de decisão, a princípio. Mas mesmo a assembleia pode ser questionada, o que ela representa não é uma forma engessada de organização mas um modo de as pessoas se encontrarem e, de maneira horizontal, dialogarem. Quando acontece um encontro depretensioso e disposto à ação de pessoas alinhadas em suas vontades e princípios, tudo é possível!

Mas porque tanta gente ainda se apega ao Estado como administrador da nossa vida? Seria porque não vislumbraram ainda como podemos gerir sistemas tão complexos, como a geração e distribuição de energia, a internet, a distribuição de água e alimentos, etc? Logicamente não há uma resposta pronta ou um plano para isso, mas alguns autores apontam soluções. Para Bookchin, “o fato para uma comunidade decidir de maneira participativa que orientação seguir numa dada questão não implica que todos devam saber como se concebe e como se constrói uma estrada. É o trabalho dos engenheiros, que podem apresentar projetos alternativos, e os especialistas desempenham, então, por isso, uma função política importante, mas é a assembleia dos cidadãos (e cidadãs) que é livre para decidir. A elaboração do projeto e a construção da estrada são de responsabilidade estritamente administrativa, enquanto a discussão e a decisão quanto à necessidade desta estrada, inclusive a escolha da sua localização e a apreciação do projeto, concernem a um processo político.”

Com isso observamos que a questão da organização política se mistura à administração e execução das decisões tomadas pelo conjunto.

Entendendo que umas das ações mais estratégicas de que o povo dispõe para lutar é o bloqueio (a ocupação, a expropriação ou a retomada do espaço) surgiu o termo “ocupar e resistir”. Seria interessante acrescentar um termo a este lema: “fazer funcionar para o povo”. Ou seja, para além de ocupar e resistir, há que se fazer a fábrica, a escola, a universidade, o transporte, o prédio funcionarem em função do coletivo, da comunidade.

O Comitê Invisível acredita que a administração e execução estão mais nas mãos do povo do que necessariamente dos técnicos, como defende Bookchin. “Por outras palavras: temos que retomar um meticuloso trabalho de pesquisa. Temos de ir ao encontro, em todos os setores, em todos os territórios que habitemos, daqueles que dispõem de conhecimentos técnicos estratégicos. É somente a partir daí que os movimentos ousarão verdadeiramente “bloquear tudo”. É somente a partir daí que se libertará a paixão de experimentar uma outra vida, paixão técnica em larga escala, que é como a inversão da situação de dependência tecnológica de todos.”

E quando pensamos na produção de coisas, logicamente associamos ao capitalismo a à necessidade de gerar lucro a existência de mais da metade dos produtos que existem hoje. A Coca-Cola vai deixar de existir? A Apple? O que podemos entender acerca da existência desses produtos depois da queda do capitalismo é que eles existirão na medida em que serão necessários a tal ponto de mobilizar pessoas para a sua produção. Podemos pensar também que a elitização da informação não existirá mais. Deste modo poderemos pensar em ter a receita da coca-cola acessível para quem quiser produzi-la em casa, ou que teremos acesso a como produzir nossa própria tecnologia de forma autônoma. Ou seja, poderemos, se realmente quisermos, produzir nossos próprios celulares e computadores, ou consertá-los. Podemos pensar que as fábricas serão cooperativadas, ou seja, que poderão sim produzir os bens que são úteis às pessoas, mas não a partir da lógica do lucro, da obsolescência programada, nem de um ritmo acelerado e desumano de trabalho.

Seria ingênuo pensar que um dia o capitalismo vai cair e então teremos o espaço necessário para realizar tudo isso que imaginamos. Os processos acontecem simultâneamente, de modo que devemos começar já, neste instante, a criação dessas formas outras de decisão, discussão, admnistração, produção e trocas!

E para ir além (ou aquém) da nossa necessidade de tecnologia, temos que pensar em nossas necessidades mais básicas. Práticas para sanar em rede essas necessidades são conhecidas em diversas partes do mundo, são as trocas e dádivas, que promovem a desmonetarização e auto suficiência! E para se pensar no agora, por onde podemos começar, olhemos para a terra e para o que precisamos de mais básico, vamos começar daí, pela terra e pela nossa comida. Quem planta colhe! Quem planta seu alimento fabrica seu dinheiro.

Que tal começarmos por uma horta comunitária?

Fontes:

Murray Bookchin . O Municipalismo Libertário.

Comitê Invisível. Aos nossos amigos.

Dona Lúcia

As histórias daqueles que não foram famosos, celebridades, lideranças, daqueles que trabalharam e só trabalharam, que criaram seus filhos com sacrifício, essas histórias, se não forem escritas ou gravadas, serão esquecidas?

A vida cotidiana sem muito brilho e oportunidades para homenagens e solenidades , as vidas das milhões de pessoas que todo dia levantam cedo e vão trabalhar para mover este sistema, essas vidas acabarão e um dia será como se nunca tivessem existido?

Minha mãe, meu pai, minha avó, D. Lúcia, D. Adélia… quem vai registrar essas histórias? Ou será que faz parte dessa vida passarmos, assim, sem marcas, como um rio suavemente corre em seu leito, e só o trabalho de muitos, como o volume de água do rio, é que traz as transformações?

Por medo de esquecer, em homenagem à D. Lúcia, vou deixar escrito algumas coisas que sei dela:

– era camponesa, japonesa, só sabia escrever e ler em japonês, era órfã e foi criada pelo seu tio, trabalhou desde criança, teve dois filhos e seis netos. Era justa, simples, guardava tudo com cuidado porque sabia o que era a falta. Sabia costurar, era ótima de conversa, tinha boa memória. Dizia Prudente Prudente em vez de Presidente Prudente, tinha pouca vaidade mas estava sempre muito limpinha e penteada. Quando mais nova fazia permanente. Nunca a ouvi levantar a voz. Agradecia a cada refeição – obrigada!

Por enquanto me lembro de muitas coisas, não vou escrever tudo porque daria um livro. Espero não me esquecer!

D. Lúcia era minha amiga, e quem disse isso foi ela! Eu concordei!

Rio de Janeiro – 15/10/13

Mesinhas na praia… uma mesa só de mulheres ao nosso lado faz escândalo pra chamar o garçon. Ele vem e a menina morena de cabelos cacheados e soltos, no seu sotaque carioca mais caprichado, pergunta:

–  Você tem facebook?

A mulher mais velha diz:

– Era isso que a gente queria pedir, moço, o seu facebook.

Burburinho, as mulheres começam a falar entre si, de repente salta a voz da morena mais interessada:

– Você tem namorada?

O menino garçon estava num misto de timidez e êxtase. Não sabia que cara fazer, mas sua alegria mal podia ficar contida no seu corpo ali parado.

As meninas se apresentaram, eram todas da mesma família, a mais velha era tia ou mãe de quase todas. O menino se apresentou: “sou o dono do bar”. E convidou-as para voltarem mais vezes. Elas, sem titubear, avisam:

– Olha que a gente volta mesmo!

– É ruim da gente não voltar…

Eu e o Cadu, na mesa ao lado, temos que esperar o desfecho da história para conseguirmos pedir nossa cerveja.

A mulher mais velha se aproxima carinhosamente do garoto e diz:

– Quando a gente voltar, meu marido gosta de trazer o isoporzinho dele. Tudo bem deixar aqui?

O menino diz que sim, mas que tem que consumir alguma coisa.

Ela emenda:

– Então tá, quando a gente vier, a gente fala com você!

… Tudo resolvido, todos felizes! A menina fez seu contato, a mulher garantiu o isopor do marido, o garçon ganhou popularidade! Eu e o Cadu chamamos, então, o garçon. Até então estávamos esperando e acompanhando o empoderamento desse grupo de mulheres. O garçon não ligou para nós… depois dessa, não seria tão fácil conseguir a atenção dele.

Dog camarada

Eu acabei ficando amiga de um cachorrinho aqui do meu quarteirão. Ele fica preso na laje de um semi-prédio, um lugar que compra materiais de reciclagem. Ele fica latindo, não a tarde toda como aqueles cachorros histéricos, mas ele parece chamar os amigos de tempos em tempos. Eu o vejo pela janela da lavanderia, que também dá para os fundos do prédio fru-fru do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Na verdade ele não é fru-fru, ele é um prédio até antigo e bem bonito, mas o que rola ali é trabalho, e entre pessoas com camisas pólo e o pequinês da loja que compra latinhas, eu fico com o dog. Fico? Hoje mesmo eu feri seu coração.

Esqueci de mencionar que há algum tempo a gente vem conversando. Primeiro eu tentei latir de volta para ele, mas como eu não sei latir certo, ele parecia irritado comigo (como se eu inventasse um gramelô de alguma língua e achasse que poderia realmente me comunicar dessa forma com alguém que fala de verdade essa língua). Nessa época o dog tinha um amigo, mas ele já não está mais…

Comecei a assobiar, parecia mais digno. Ele late, eu assobio, e assim trocamos alguns cumprimentos pelas tardes vazias.

Hoje mesmo, estávamos num papo quando os arquitetos de camisa pólo nos viram. Eles ficaram olhando e eu fiquei sem graça, estava mesmo me abrindo para o dog. Parei de assobiar. O dog continuou puxando assunto, mas eu não respondia. Ele dava mais uns latidinhos e parava. Eu quieta, esperando os arquitetos saírem da janela. Quando fui assobiar de volta o dog já estava entretido num papo com uma pomba que passava por ali.

Esquadrilha da fumaça – Marcha da Maconha 23.05.15

Marcha / Dança da Maconha


Ei, polícia, maconha é uma delicia!

Ei, maconha, polícia é uma vergonha!

Ei, delícia, maconha pra polícia!


Marcha em 5 fumaças:

Fumaça 1 – maconha.

Fumaça 2 – fumaça dos sinalizadores verdes.

Fumaça 3 – escapamento da kombi que carregava a banda.

Fumaça 4 – churrasquinho ambulante junto da marcha.

Fumaça 5 – Maldito Palo Santo.


A marcha e a dança. Qual a diferença?


A marcha é em tempo de 2. 1. 2. Um passo, outro passo.O quadril preparado para apenas permanecer sobre as pernas. Caminha: 1,2.

A dança vem do caminhar com suíngue. Vem do ritmo que toca para fazer das ruas carnaval, e não passagem de tropa.

O que acontece entre o 1 e o 2 é um universo! Um universo de coisas que o quadril pode fazer, e os ombros, os braços, mãos, a cabeça, o olhar…

Os barra-vidas

Tudo se organiza para a sobrevivência, só o capitalismo e o Estado é que se organizam para a extinção. 
Eles são barra-vidas. 
Barram estrategicamente todas as nossas formulações de um mundo melhor, para que não encontremos a saída. 
Propõem caminhos que levam a labirintos: consumo, igrejas, padrões, formas de produção material e de subjetividades. 
Nós somos o capitalismo, nosso corpo é seu suporte. 
O capitalismo nos usa, e usa à Terra para existir se manter.
A Terra claramente resiste a ser esse suporte, faz frente como pode, adaptando-se na medida do possível, mas, principalmente, cumprindo seus desígnios e apresentando suas consequências – que parecem querer vomitar o Homem, como um organismo estranho e parasita que trabalha contra o funcionamento harmônico do todo.
Nosso corpo também resiste. Resiste muito. 
Mas para além da resistência para a sobrevivência individual, assim como nosso corpo é vetor de algo maior como o capitalismo, temos que emprestá-lo para a luta.
Para sobrevivermos todxs, e a Terra, não vai bastar nossa resistência individual, precisamos ir além do nosso corpo, temos que nos organizar, ou seja, desenvolvermos órgãos que trabalham em conjunto. Precisamos dessa força ou não sobreviveremos e não sobreviverá a Terra como a conhecemos.
Quem nos barra? Como podemos abrir espaço para que as organizações autônomas possam acontecer? 
Temos que compreender quem nos barra! 
O maior medo de quem barra nossas vidas é que a gente saiba (e muitxs já sabem) que somos nós mesmxs que fazemos tudo funcionar, só que organizadxs por elxs. 
Temos que aprender com quem resiste e faz algo funcionar por si próprix, estxs são xs mais perseguidxs… já pensou se contam para todxs que podemos fazer as coisas funcionarem por nós mesmxs?
Até onde eu entendo o termo “esquerda”, ele pressupõe uma ideologia que luta pelo fim do capitalismo, ou, ao menos, pelo fim daquilo que gera as opressões no mundo, o que é a mesmíssima coisa. 
Mas em relação ao Estado não se entende unanimemente que ele  deve ser combatido como uma entidade que nos oprime. 
Como ainda se pode cogitar a convivência com o Estado se esse nos massacra? 
O Estado é autoritário e violento por natureza, não há ideologia democrática que possa mudar isso.
O Estado é fascista, ora declaradamente, ora disfarçadamente.
Com o fascismo, como dizem, não tem conversa. 
Nós não conseguiremos convencê-los, os poderosos, de nada. Eles têm um projeto e o estão executando.
E nós, qual o nosso projeto?
Disputar esse poder, o Estado, ou criar formas nossas de vivermos sem opressão?
Se ficarmos na diputa pelo poder, já era. Acabou o tempo. Acabou a vida.
Guerras, lutas perdidas, caminhos já conhecidos…
O poder, assim como o capitalismo, não é natural, foi inventado e organizado para se manter.
O Estado é um executor das sentenças do capitalismo.
O Estado teve a sua chance de mostrar à esquerda e ao mundo que pode salvar-nos do capitalismo. Não pode porque o capitalismo e o Estado estão juntos desde sempre. Está mais do que provado que o Estado serve ao capitalismo, ou ao domínio de uns sobre outrxs.
Como pensamos nossa relação com o Estado define todas as estratégias que venhamos a ter.
O Estado divide a esquerda.
O Estado é da direita.