Os barra-vidas

Tudo se organiza para a sobrevivência, só o capitalismo e o Estado é que se organizam para a extinção. 
Eles são barra-vidas. 
Barram estrategicamente todas as nossas formulações de um mundo melhor, para que não encontremos a saída. 
Propõem caminhos que levam a labirintos: consumo, igrejas, padrões, formas de produção material e de subjetividades. 
Nós somos o capitalismo, nosso corpo é seu suporte. 
O capitalismo nos usa, e usa à Terra para existir se manter.
A Terra claramente resiste a ser esse suporte, faz frente como pode, adaptando-se na medida do possível, mas, principalmente, cumprindo seus desígnios e apresentando suas consequências – que parecem querer vomitar o Homem, como um organismo estranho e parasita que trabalha contra o funcionamento harmônico do todo.
Nosso corpo também resiste. Resiste muito. 
Mas para além da resistência para a sobrevivência individual, assim como nosso corpo é vetor de algo maior como o capitalismo, temos que emprestá-lo para a luta.
Para sobrevivermos todxs, e a Terra, não vai bastar nossa resistência individual, precisamos ir além do nosso corpo, temos que nos organizar, ou seja, desenvolvermos órgãos que trabalham em conjunto. Precisamos dessa força ou não sobreviveremos e não sobreviverá a Terra como a conhecemos.
Quem nos barra? Como podemos abrir espaço para que as organizações autônomas possam acontecer? 
Temos que compreender quem nos barra! 
O maior medo de quem barra nossas vidas é que a gente saiba (e muitxs já sabem) que somos nós mesmxs que fazemos tudo funcionar, só que organizadxs por elxs. 
Temos que aprender com quem resiste e faz algo funcionar por si próprix, estxs são xs mais perseguidxs… já pensou se contam para todxs que podemos fazer as coisas funcionarem por nós mesmxs?
Até onde eu entendo o termo “esquerda”, ele pressupõe uma ideologia que luta pelo fim do capitalismo, ou, ao menos, pelo fim daquilo que gera as opressões no mundo, o que é a mesmíssima coisa. 
Mas em relação ao Estado não se entende unanimemente que ele  deve ser combatido como uma entidade que nos oprime. 
Como ainda se pode cogitar a convivência com o Estado se esse nos massacra? 
O Estado é autoritário e violento por natureza, não há ideologia democrática que possa mudar isso.
O Estado é fascista, ora declaradamente, ora disfarçadamente.
Com o fascismo, como dizem, não tem conversa. 
Nós não conseguiremos convencê-los, os poderosos, de nada. Eles têm um projeto e o estão executando.
E nós, qual o nosso projeto?
Disputar esse poder, o Estado, ou criar formas nossas de vivermos sem opressão?
Se ficarmos na diputa pelo poder, já era. Acabou o tempo. Acabou a vida.
Guerras, lutas perdidas, caminhos já conhecidos…
O poder, assim como o capitalismo, não é natural, foi inventado e organizado para se manter.
O Estado é um executor das sentenças do capitalismo.
O Estado teve a sua chance de mostrar à esquerda e ao mundo que pode salvar-nos do capitalismo. Não pode porque o capitalismo e o Estado estão juntos desde sempre. Está mais do que provado que o Estado serve ao capitalismo, ou ao domínio de uns sobre outrxs.
Como pensamos nossa relação com o Estado define todas as estratégias que venhamos a ter.
O Estado divide a esquerda.
O Estado é da direita.